Em meados de 2022, pela primeira vez em 10 anos, aconteceu uma feira de artes e literatura no centro da minha cidade. Quem diria? Esse deslumbrante interior paulista conta com milhares de velhos prontos pra dar opinião sobre tudo como se estivessem em uma verão idealizada e fascista do século 19 enquanto escutam Maiara e Maraísa, além da alta concentração de malucos. Com a nova corrente de senso comum da direita beleléu da cabecinha, a cidade que deu inicio à República se tornou embaixada dos monarquistas.
Sim, Solange.
Gostou da introdução?
Esse posto é dedicado a
que colocou o email na lista (de forma espontânea) e me lembrou de aulas de biologia que tive no primeiro ano do ensino médio.Voltando pro interior paulista
literatura e artes não tem muito valor por aqui, dá pra ver isso na oferta de cursos superiores em que linguagens é minoria e artes foi extinto (humanidades também). O mercado de trabalho dessas áreas praticamente não existe e o incentivo público é meia dúzia de maconheiro disputando migalha.
É claro que a feira de literatura e artes foi um milagre, quase um presente de Natal. Infelizmente juntou muita gente de esquerda e obviamente nunca mais vai acontecer, mas permanece em nossos corações.
Família Suplicy
Marta Suplicy legalizou o skate1 na cidade de São Paulo, Eduardo Suplicy Pai segue no PT desde a velha guarda e é atualmente o velho mais mais descolado do Brasil, com o projeto da renda básica de cidadania que o PT só faltou cagar na cabeça dele2 (atualmente tem notícias de planos para implementação). São três filhos, duas pessoas e um advogado, o mais conhecido é o Supla. Vale mencionar a passagem deles no podcast Mano a Mano, do Mano (Brown).
Uma memória cristalizada na Praça do Carmo foi o grandioso show do “Brothers of Brazil” - dupla composta por João Suplicy e Supla. Sim, eu assumo, só fui porque pensei que seria engraçado (e foi) - mas também foi o melhor show da minha vida, proporcionado pela feira de literatura e artes.
A mistura é bossa nova (João Suplicy) + Supla (rei do punk) + Supla falando histórias com muitas expressões em inglês do jeito mais brega possível, do jeito mais Supla possível. Na introdução de “Hey Playboy” nosso Suplinha conta a história de quando os dois foram os únicos brancos numa festa do Snoop Dogg, que muito chapado (desde os anos 80) chegou perguntando ‘hey playboy?’. A cada “commom kids” a praça bêbada se esgoelava. Deus realmente abençoou a família Suplicy.
Meu momento preferido do Supla na TV (e talvez de toda a televisão aberta) foi a Casa dos Artistas 2001, tentativa do SBT de um BBB com famosos, ideia reciclada pelo Boninho em 2020. Bárbara Paz, Supla e Alexandre Frota jovens num caos fodido em formato inédito na TV. Vale lembrar que o programa era um reality show de plateia. De plateia.
O algoritmo do meu Spotify demorou meses até voltar ao normal depois que eu passei um bom tempo ouvindo toda a discografia de Brothers of Brazil em looping.
Quando o show acabou, corri até a Brother’s Vanzinha alimentando a esperança de que tirariam uma foto comigo. Não funcionou, mesmo gritando: “papito eu votei no seu pai” (nunca votei no Suplicy). No mesmo lugar, tinha um garoto de cabelo longo e cartola, que muito feliz ao ser chamado de Slash you’r my bigest idol, tirou uma foto comigo. Uma estrela internacional humilde.

Instagram, uma descoberta - Giovanna Moraes.
Alguns dias atrás (mês de maio) na fantástica estação Reels do Instagram, ponto de reciclagem do Tik Tok, um videozinho me saltou aos olhos: uma garota muito loira parecidíssima com o papito Supla cantava ao lado dele fazendo MUITA careta (Supla parecia assustado). Se o meu ídolo tem uma filha, é imprescindível saber quem ela é.
Cliquei no perfil e essa decisão tão pequena, tão banal, conseguiu ser tão TERRIVELMENTE infeliz. As coisas que eu vi não tem descrição - por caridade não vou anexar link. Ela realmente engaja com videos se contorcendo (como se tomasse choque) dublando trechos das próprias músicas em público.
Fascinação por malucos
(Essa é a parte do texto que ninguém quer ler)
A parte estranha é que eu adorei a Giovanna Suplicy, nossa Taylor Swift do punk, o que é um bom exemplo do meu defeito mais estranho, desagradável e autodestrutivo: fascinação por maluco.
Muito além da curiosidade comum, habitual - que louco chama atenção é inegável, mas chegar perto por pura curiosidade é tarefa exclusiva de quem tem coragem. Em 2022, além do show do Supla, teve minha temporada super-fundo-do-poço e em 6 meses eu sai com algumas (eufemismo de muitas) pessoas completamente beleléu da cabecinha. Coisa moderada, ninguém tentou me matar ou nada do tipo, apenas casos de “olha minha arma” e “olha minha coleção de facas” e “isso é uma cicatriz gigante de facada na sua barriga?”. Tive medo de virar manchete da TVTem? (jornal local da Globo) Sim. Infelizmente a vontade adolescente de fazer bosta sempre venceu a luta contra o bom senso.
Esses tempos eu andei tendo pesadelos em que meu ex namorado me matava - o que é normal, tenho muitos sonhos estranhos graças ao antidepressivo. O que não é normal é a quantidade de pesadelos e vezes em que eu tinha a impressão de ver ele na rua: quase todo dia, o que, levando em consideração a distância dos acontecimentos e a falta de contato, não tem nada que justifique. Quanto mais eu sonhava, mais eu via. Comecei a me sentir muito ansiosa nesses episódios até que o ápice foi no sábado.
Numa descrição muito gentil eu diria que o ex namorado costumava ser incomum. Ele batia a cabeça na parede quando se sentia estressado, aparecia no dia seguinte de qualquer discussão com o braço parecendo uma tábua de cortar carne (de tanto corte) e começou a ter problemas com bebida aos 16 (15?), sem histórico de crime, agressão ou qualquer coisa (na época). Todos os episódios de vislumbre dele feito fantasma foram comuns, até que sábado aconteceu a bizarrice aguda.
No meu trabalho, vi de canto de olho um cara andando em volta de mim enquanto eu arrumava uma prateleira. Entrei em pânico, continuei fazendo meu trabalho de cabeça baixa e evitei olhar pra cima, o indivíduo começou a rir. Vi que aquela figura de um homem enorme usava um crocks rosa tamanho 44. Então eu me dei conta de que esse tempo todo a ansiedade não era medo de ver o ex aleatório, era medo DELE. O que faria todo sentido caso ele tivesse me agredido ou coisa do tipo, mas isso nunca aconteceu.
Depois que o homem de crocks rosa finalmente foi embora, andei até os caixas pra ter certeza se era ele ou não. Com a postura de uma mulher corajosa de estilete no bolso me convenci a olhar - e não vi nada. Minha visão borrou.
Normal. Alguns tem medo de aranha, palhaço, mas Deus me escolheu pra ter pavor de forma completamente aleatória do ex namorado do ensino médio. Normal.
Análise dos álbuns “Fama de Chata” e “Para Tomar Coragem”
Dedico todo esse sacrifício em nome de papito Supla.
Para tomar Coragem - 2022
É evidente a falta de habilidade pra título, desde o nome artistico. Ela é toda personagem, toda legalzona, irada, porra louca. O nome? Giovanna. Imagina se o Supla fosse Eduardo Smith Suplicy. Desde o ensino médio qualquer um pode perceber que quem realmente é legal tem apelido (ou é conhecido pelo sobrenome), uma Giovanna loira cool não é giovanna, é Gio, a Moraes. Um nome coerente pra uma Giovanna legalzona, da galera, é alguma coisa esquisitinha de duas sílabas, Giva ou sei lá.

O primeiro álbum da nossa estrela é definitivamente é um álbum, com várias músicas. É bem mais tristinho e se leva muito mais a sério do que o segundo. Quebra paradigmas, lacra e chora. 10 músicas, menos de meia hora, rockzinho, vídeozinho. Ouvi ele umas 10 mil vezes e não consegui decorar nenhuma música. Falta personalidade.
Fama de Chata - 2024
O segundo álbum tem personalidade. Também tem tudo o que tem no outro - só que de um jeito que funciona. Clássicos textos falando em off como se fosse conversa ou áudio do whatsapp. A primeira música já chega lacrando.
Calma, tio Não precisamo competir Tenho certeza que tu é mais true do que eu Cê chupa rola de roqueiro como ninguém
Rola de Roqueiro, que assonância linda!
O nome da música é As Mina no Poder e tem a vibe “meo, quero algo de 2 minutos pra fazer uns tiktok, táligadoh? bem foda, falando várias true” mas eu respeito isso. É uma frase que o Supla diria se tivesse nascido em 2005. Tem grito, tem putaria, tem guitarra.
Em seguida tempos: Bloquinho de Notas (``você está me copiandoh namoral``) e Branquinho Básico cuja história é ``sua namorado está me querendo me comer, senhor branquinho MPB`` e eu adoro isso. É ruim na medida certa, é engraçado, é interessante. É Supla.
Escrevi muito e tá próximo do limite de caracteres. É isso
Nota
*Achei um emprego em junho (sim, demorei três meses pra postar essa bosta)
Pesquise VOCÊ a fonte da minha afirmação absurda. Quer que eu prove? Assim, de graça? Não vou.
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/eleicoes/2022/noticia/2022/06/21/suplicy-interrompe-apresentacao-de-plano-de-governo-do-pt-e-aliados-para-falar-da-sua-proposta-de-renda-basica-nao-fui-convidado.ghtml